Crédito de Carbono no Agro: regras, oportunidades e como participar em 2025
Brasil inaugura o mercado regulado (SBCE) e abre espaço para projetos de solo, floresta e pecuária.

O Brasil entrou definitivamente no mapa dos mercados de carbono. A sanção da lei que cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), em dezembro de 2024, marcou o início de uma nova fase. O sistema passa a conviver com o mercado voluntário e reforça a integração com o SINARE (Sistema Nacional de Redução de Emissões), responsável por centralizar os registros de emissões e créditos.
Para o agro, a novidade chega em um momento em que o setor já experimenta metodologias reconhecidas, como o ABC+ Calc, ferramenta lançada pelo Ministério da Agricultura em agosto de 2025 para apoiar produtores na medição de emissões e ganhos ambientais em cadeias como a pecuária.
2. O que é e como funciona um crédito de carbono
Cada crédito de carbono representa 1 tonelada de CO₂ equivalente que deixou de ser emitida ou foi capturada e armazenada. Esses créditos podem ser negociados em dois ambientes:
Mercado voluntário, baseado em padrões internacionais como Verra e Gold Standard;
Mercado regulado, que no Brasil será estruturado a partir do SBCE.
O valor do crédito depende da integridade do projeto, das metodologias usadas e da demanda. No voluntário, já há negócios no Brasil com preços que vão de centavos até US$ 20 por tonelada, com expectativa de valorização de projetos de maior qualidade.
3. Onde estão as oportunidades para o produtor
Carbono no solo
Projetos de agricultura sustentável que envolvem plantio direto, rotação de culturas e manejo de fertilizantes podem se enquadrar na metodologia VM0042 da Verra, atualizada em 2024. O primeiro crédito de carbono no Brasil oriundo de manejo agrícola foi emitido em 2025.
Florestas e sistemas integrados
Projetos de reflorestamento, restauração de áreas degradadas e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) podem gerar créditos sob a metodologia VM0047, também reconhecida internacionalmente.
Pecuária de baixo carbono
A Embrapa desenvolveu conceitos como a Carne Carbono Neutro (CCN) e a Carne Baixo Carbono (CBC), que aliam boas práticas de manejo de pastagens e integração de árvores. Além disso, já existem metodologias específicas para redução do metano entérico, com destaque para o uso de aditivos alimentares como o 3-NOP (Bovaer®).
Biochar
Outra frente é o biochar, carvão vegetal aplicado ao solo, que tem metodologia própria e foi reconhecido em 2025 como solução de alta integridade para sequestro de carbono.
4. Passos práticos para viabilizar um projeto
Diagnóstico: análise de CAR, posse da terra, histórico de uso e linhas de base (solo, manejo ou rebanho).
Escolha da metodologia: solo (VM0042), floresta/ILPF (VM0047), pecuária/metano (VM0041), biochar.
Mensuração (MRV): amostragem de solo, sensoriamento remoto, registros de manejo. O ABC+ Calc pode auxiliar neste processo.
Validação e verificação: feita por entidades independentes antes da emissão de créditos.
Registro e comercialização: inscrição no padrão internacional (Verra/GS) e integração com o SINARE. Venda pode ser spot, via contratos futuros ou por marketplaces especializados.
5. Riscos e cuidados
Projetos frágeis em adicionalidade (quando a prática já era comum), falhas em amostragem de solo ou riscos de reversão (como incêndios) podem comprometer a integridade e o valor dos créditos. O mercado tem penalizado iniciativas de baixa qualidade, reforçando a importância de aderir a metodologias reconhecidas e sistemas de auditoria robustos.
6. Oeste do Paraná: potencial de destaque
Na região Oeste do Paraná, oportunidades já se desenham:
Soja e milho: plantio direto, cobertura e manejo de adubação de precisão podem gerar créditos.
ILPF: integração lavoura-pecuária-floresta com recuperação de áreas degradadas.
Pecuária intensiva: confinamentos e semiconfinamentos têm condições ideais para projetos de metano.
Com produção intensiva e práticas já avançadas em sustentabilidade, a região tende a ser protagonista no mercado de carbono agrícola brasileiro.
Conclusão
O mercado de carbono está deixando de ser promessa para se tornar uma fonte real de renda e competitividade para produtores rurais. A legislação brasileira cria regras claras, enquanto metodologias atualizadas abrem espaço para projetos de solo, floresta, pecuária e biochar.
Para participar, o produtor precisa estar atento à integridade dos projetos e buscar apoio técnico especializado. Como em qualquer mercado, informação e planejamento são os principais aliados.
Nota editorial: Matéria produzida com base em legislações recentes, publicações do MAPA, relatórios da Embrapa, padrões internacionais de crédito de carbono (Verra e Gold Standard) e preços praticados no mercado voluntário.